O que é o dinheiro? Sobretudo na forma como o conhecemos, emitido por bancos centrais e usado para mediar as trocas económicas que fazemos na vida diária? Medida de riqueza, ou do direito de usufruir dela? Um “atestado de confiança” em que haverá reciprocidade nas nossas trocas? Mas confiança entre quem? Entre pertencentes a um pais? A uma entidade supra-nacional? À economia global?
Será que a confiança se pode medir por transacções financeiras de larga escala, por “bips” nos computadores dos grandes bancos e das bolsas de valores?
Como seria o dinheiro se este representasse as relações de confiança que temos nas nossas comunidades de vizinhança?
O que acontece quando, em vez de pensar a economia como fluxos globais, se toma atenção ao valor que pode surgir das relações de reciprocidade ao nível local? Quando em vez a maximização da produtividade se valoriza a solidariedade, e a qualidade de vida, nomeadamente no que diz respeito às relações humanas?
A moeda social, instrumento de atribuição de valor de cariz comunitário, surge como uma estratégia de revitalização das economias locais, atribuindo um valor transaccionável a bens e serviços produzidos localmente, permitindo axs membros de uma comunidade de vizinhança criar e atribuir valor de forma a trocar bens e serviços entre si, sem ter de passar pelo crivo de um banco central. É, desta forma, vista como um instrumento de promoção do desenvolvimento local, destinada a sustentar cadeias produtivas locais, assim como o mercado de trabalho das colectividades que nela participam.
A sua criação inspira-se nos conceitos de economia solidária, de reciprocidade e na regulação de forma participativa e democrática das trocas económicas, na produção e comercialização de produtos. Tal acontece de uma forma que vai além da lógica capitalista, por beneficiar a comunidade local e trazer desenvolvimento na forma de criação de emprego e renda, assim como no reforço das solidariedades locais.
O seu uso é restrito à comunidade e regulado, de forma participativa, por parte da assembleia de benficiárixs, de forma a impedir a acumulação de valor, com o propósito de promover a sua circulação constante, de uma forma que impeça a inflação e a acumulação de capital e beneficie a redistribuição dos recursos na esfera da própria comunidade, contribuindo assim para diminuir o poder centralizador da economia capitalista globalizada e para promover a inclusão social. Dessa forma, o aumento da quantidade de moeda social corresponde ao aumento das transacções realizadas pelxs participantes da economia local.
Embora haja casos em que a moeda social tem “lastro”, que é geralmente o valor equivalente de uma unidade na moeda dita “oficial” (para cada moeda social uma moeda oficial do mesmo valor), tal não é necessário para que a moeda possa circular e para que lhe seja atribuído um valor.
Bibliografia online sobre moedas sociais
Garcia, Armando, Moedas Comunitárias de Portugal – Notafilia – 2012
Singer, Paul. Finanças Solidárias e Moeda Social (http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C812D3ADC4216013AFAE0DA6514F7/FINANÇAS%20SOLIDÁRIAS%20E%20MOEDA%20SOCIAL.pdf )
Rede Latinoamericana de Socioeconomia Solidária – REDLASES. 2006. Moeda Social e Democracia: Manual para compreender e fazer (http://redlases.files.wordpress.com/2008/09/cartilha_ms_e_democracia.pdf )
Garcia, Armando. 2012. Notafilia – Moedas Comunitárias de Portugal (http://www.slideshare.net/mig76/notafilia-moedas-comunitrias-de-portugal )
Instituto Palmas – Banco Palmas, 15 anos: Resistindo e Inovando (http://www.inovacaoparainclusao.com/o-livro.html )
Comissão Europeia. 2012. Livro Verde – Sistema Bancário Paralelo (http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2012:0102:FIN:PT:PDF )